A vida não raras vezes nos dá sinais das ações que devemos adotar, por mais que em alguns momentos os ignoremos. O contexto em torno do incêndio que atingiu o Hospital Federal de Bonsucesso, no último dia 27 de outubro, não foi diferente. Em maio de 2019, o Corpo de Bombeiros já solicitara um projeto de segurança contra incêndio. Em setembro do mesmo ano, o hospital foi autuado por descumprir a exigência. Em 2020, segundo informações divulgadas na grande mídia, os Bombeiros retornaram ainda nos meses de março e agosto, mas nada foi colocado em prática para se evitar as cenas de pacientes sendo transferidos às pressas, alguns em estado grave, para locais sem nenhuma estrutura e/ou para outros hospitais que cronicamente padecem de falta de vagas.
Neste caso, porém, as autoridades responsáveis pelas ações preventivas não usufruem do serviço público em questão. Os únicos a sentirem o peso desta negligência é o restante da sociedade, sejam pacientes ou servidores, que passam a conviver com uma bomba-relógio que, não se sabe quando, mas certamente explodirá. E quando isso acontece, além das vidas que são perdidas em virtude dos deslocamentos repentinos, fica um grande rastro de desassistência para aqueles que já tinham atendimentos agendados. Já foi anunciado, inclusive, o fechamento do Hospital Federal de Bonsucesso por tempo indeterminado.
E uma vez mais como um sinal dos tempos atuais, o trabalho rápido, intenso e incessante dos servidores públicos na luta para salvar as vidas desnecessariamente colocadas em risco se contrapõe de forma contundente ao discurso de quem ecoa menos as vozes desses trabalhadores e mais as de burocratas e governantes que defendem a privatização do serviço público. Destes mesmos que nenhuma atitude adotaram ante os alertas de segurança do Corpo de Bombeiros (serviço público, por sinal), e que reduzem investimentos como forma de degradar o serviço público e preparar o terreno para o discurso de que a privatização é o único caminho.
O Sistema Único de Saúde (SUS), assim como os demais serviços públicos, atendem majoritariamente a parcela da população mais pobre. São trabalhadores e desempregados que ficariam sem acesso aos serviços mais básicos com a privatização do SUS. É o que acontece, por exemplo, nos Estados Unidos, que para muitos é referência de sociedade bem sucedida. Neste país, não há saúde pública. E o caminho para quem adoece é se endividar ou morrer sem atendimento.
Apesar de todos os graves problemas sociais resultantes do incêndio que atingiu o Hospital Federal de Bonsucesso, que cada cidadão possa enxergar neste trágico episódio não apenas um sinal, mas a certeza de que defender o serviço público em seu pleno funcionamento e o servidor público em suas condições dignas de trabalho é defender o bem-estar de toda a sociedade.
Imagem: Fausto Maia/TheNews2/Estadão Conteúdo