Na próxima sexta-feira, dia 20 de novembro, é celebrado o Dia da Consciência Negra, data que por si só carrega todo um significado, um simbolismo. O dia marca toda a luta daqueles que não se renderam a escravidão, que lutaram contra a opressão. No entanto, neste ano de 2020, o 20/11 vai além: ele marca também a necessidade de reafirmar que a luta contra o racismo é constante e cotidiana.
O povo brasileiro durante muito tempo viveu sob a máscara do “povo cordial”, com o argumento de que somos tolerantes com as diferenças. Mas o surgimento e a ascensão da extrema direita no país, com seu discurso violento e radical, derrubou de vez essa máscara e escancarou a verdade que muitos tentaram esconder ao longo da história: o Brasil é um país altamente racista e isso se reflete na desigualdade latente de nossa sociedade.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, o Brasil conta com 56,2% de sua população se declarando preta ou parda. E mesmo sendo maioria no país, a população negra é a que mais sofre para ter seus direitos garantidos, como acesso à educação (o analfabetismo na população preta, 9,9%, é mais que o dobro do registrado na população branca, que está em 4,2%); direito à moradia (cerca de 70% dos moradores de favelas e comunidades carentes nas grandes cidades são negros, a exemplo de São Paulo); oportunidades de emprego (segundo dados de 2017, a taxa de pessoas sem trabalho era de 14,5% entre os negros, contra 9,5% entre os brancos); e valorização do trabalho (o rendimento médio dos negros era de R$ 1.570 contra R$ 2.814 dos brancos).
Na necessidade de afirmar a luta do povo negro, vozes são extremamente importantes para exaltar a força daqueles que se colocaram como resistência frente à opressão das elites brancas e escravocratas. E essas vozes se apresentam na intelectualidade e na cultura, nas artes. No entanto, um dos órgãos governamentais que deveria manter viva a tradição e a força do povo negro está seguindo o caminho inverso e tomando a lamentável posição de apagar a história de luta da negritude brasileira. A Fundação Palmares, criada em 1988 para promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos da influência negra na sociedade brasileira, está sequestrada sob a influência do atual governo e praticando a invisibilidade de expoentes do povo preto na sociedade. Além da falsificação histórica contra figuras do povo negro como Zumbi, Dandara, Aqualtune e Luiz Gama, a entidade decidiu arbitrariamente retirar de seus registros o legado de grandes nomes do povo negro que estão vivos, como Elza Soares, Gilberto Gil, Martinho da Vila e Zezé Motta. Postura lamentável de uma entidade que tem hoje à frente um negro que rejeita toda a história de luta de seu povo.
Portanto, neste dia 20 de novembro, mais do que a consciência do povo preto, devemos exaltar também a força, a intelectualidade, a resistência e a influência do negro na sociedade. Rememorar aqueles que já se foram e fortalecer a existência dos que estão entre nós. Pela verdade, pela justiça e pela igualdade que o povo negro busca em toda sua história.
Fontes:
https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18319-cor-ou-raca.html