Em 25 de Julho é comemorado o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, data que marca a realização do 1º Encontro de Mulheres Afro-latinoamericanas e Afro-caribenhas, assim como a criação da Rede de Mulheres Afro-latinoamericanas e Afro-caribenhas, em Santo Domingo (República Dominicana).
Nessa data, também foi sancionada pela presidenta Dilma Rousseff a Lei nº 12.987/2014, como sendo o Dia Nacional de Tereza de Benguela. Tereza de Benguela foi uma líder quilombola, que viveu durante o século 18. Com a morte do companheiro, Tereza se tornou a rainha do quilombo, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas, sobrevivendo até 1770, quando o quilombo foi destruído pelas forças portuguesas.
Nesse mês de julho, que é carinhosamente chamado de o mês das pretas, o SINTUPERJ presta homenagem e faz uma reflexão sobre a situação da mulher negra no Brasil.
Nós, mulheres negras, somos em torno de 28% da população brasileira sobrevivendo em um país estruturado por políticas machistas e racistas desde sua origem colonial, que sempre tratou mulher sem oportunidade e direitos e, para nós mulheres negras essa situação ainda é muito pior. Por sermos a base da pirâmide temos uma luta muito mais árdua por igualdade.
Vale lembrar que embora a mulher branca também precisou lutar e ainda hoje luta pelo direito de ingressar no mercado de trabalho e até em meios acadêmicos, nós, mulheres negras, já estávamos no mundo do trabalho há séculos, porque para nós não foi uma opção, a partir do momento em que chegamos ao Brasil como escravizadas para trabalhar sem direitos a renda, moradia e proteção. Condições essas que até os dias de hoje se reproduzem como o caso de uma empregada doméstica de 63 anos que foi resgatada porque vivia em situação análoga à escravidão durante 41 anos. Outro fator é que as mulheres negras ocuparam, e ocupam até hoje, funções majoritariamente em serviços domésticos, vistos pela sociedade preconceituosa como um trabalho subalterno, sem mérito e qualificação, aprofundando ainda mais esse racismo.
Nos meios da educação, com ajuda de políticas de cotas, tivemos nas últimas décadas um aumento no número de mulheres negras chegando à Academia, concluindo o curso superior, mestrado e ou doutorado, o que foi muito significativo, NÃO DO PONTO DE VISTA QUANTITATIVO, POIS HÁ MUITO ESPAÇO PARA CRESCIMENTO, mas no sentido de IMPORTÂNCIA, DE QUEBRA DE PARADIGMAS, afinal temos que levar em conta que elas muitas vezes lutam com sacrifício SEJA POR CONTA DA CONDIÇÃO SÓCIO ECONÔMICA, SEJA PORQUE NECESSITAM TRABALHAR, sustentar a família, criar filhos, cuidar da casa mesmo tendo uma menor remuneração e quando consegue vencer através da educação, provando que é tão ou mais qualificada que a mulher branca, o homem branco e homem negro sofrem a barreira do preconceito e da negação de sua capacidade, o que se reflete na média da sua remuneração. UM PROBLEMA QUE AINDA PRECISAMOS COMBATER E DENUNCIAR!
- Nos espaços de poder e de representatividade política ainda somos minoria. Em um país em que não existem políticas públicas voltadas para a população menos favorecida essa baixa representatividade faz muita diferença;
- A saúde da mulher negra também é um tema de relevância, onde as relações de gênero neste modelo social patriarcal que coloca principalmente as mulheres negras em condição de desigualdade de poder em relação aos homens impacta fortemente nas condições da saúde da mulher, seja a partir das múltiplas violências físicas e ou psicológicas sofridas ou da sobrecarga na divisão do trabalho, na assistência global da saúde da mulher praticada pelos SUS. A falta de investimento tem trazido um retrocesso e, consequentemente, um agravamento de doenças crônicas pela falta de acompanhamento dessa mulher;
- Com o advento da pandemia do novo Coronavírus, a situação da mulher negra se agravou muito e não coincidentemente a primeira mulher a morrer vítima da síndrome foi uma mulher negra empregada doméstica. A impossibilidade de fazer isolamento e de condições sanitárias adequadas trouxe um aumento no número de mortes dessa mulher que tem que continuar trabalhando mesmo com o risco. A pandemia também trouxe um aumento de desemprego, e da insegurança alimentar, aprofundando ainda mais a desigualdade social.
O aumento da violência doméstica, as políticas escancaradas de extermínio dos (as) jovens negros (as) nas favelas, a intolerância religiosa e de gênero são uma luta diária para não sucumbir.
Mas se por um lado, os dados são assustadores e vivemos momento de incerteza e possíveis retrocessos na agenda de demandas das mulheres, por outro, nunca tantas mulheres se identificaram tanto com a pauta em defesa dos direitos femininos e da igualdade de gênero
Nós, mulheres negras, seguiremos em frente. Somos descendentes de mulheres escravizadas que fizeram a travessia do Atlântico para ajudar na construção e formação dessa nação e reivindicamos nosso lugar na sociedade. Assim como Tereza de Benguela, Carolina de Jesus, Lélia Gonzales, Ruth de Souza, Conceição Evaristo; Antonieta de Barros, Aqualtune, Theodosina Rosário Ribeiro, Benedita da Silva, Jurema Batista, Leci Brandão, Chiquinha Gonzaga, Elisa Lucinda, Maria Filipa, Maria Conceição Nazaré (Mãe Menininha de Gantois), Luiza Mahin, Dandara, entre tantas outras a quem nós respeitosamente reverenciamos.
Por Regina Souza
Coordenadora Geral do Sintuperj