Em reunião realizada no Centro de Operações e transmitida pela internet pela Prefeitura do Rio no último domingo, 01/03, o prefeito Marcelo Crivella culpou as populações mais pobres e carentes pelas tragédias decorrentes das chuvas que atingem o Rio de Janeiro desde o último sábado. O prefeito declarou que ‘os cariocas gostam de morar perto das áreas de risco para se verem livres dos esgotos (…) e gastar menos tubos para colocar cocô e xixi’. A declaração choca pelo fato do prefeito não assumir suas responsabilidades e tentar mais uma vez jogar uma cortina de fumaça na tragédia que é sua administração à frente da Prefeitura do Rio de Janeiro.
Vergonha é a palavra que expressa o sentimento de todos os cidadãos do Rio de Janeiro com mais uma pérola desse cidadão, que se elegeu com a promessa de cuidar das pessoas. Declarar em público que as pessoas moram em área de risco porque querem economizar nos tubos de esgotos é descer ao último grau de descaso, desrespeito, preconceito e total falta de compromisso e conhecimento do papel que o cabe. Além de preconceituosa, a declaração de Crivella esconde o principal: que dar condições dignas de moradia para a população e fornecer saneamento básico de qualidade é de responsabilidade do poder público. Os efeitos das fortes chuvas não são novidade para a população carioca, que sofre com a falta de políticas públicas há décadas. No entanto, a situação que já era complicada, se tornou dramática desde que Crivella assumiu a administração municipal. Já em fevereiro de 2019, quando a cidade foi atingida por mais um temporal, foi noticiado que a Prefeitura do Rio reduziu em 77% (setenta e sete por cento) os gastos com prevenção e controle das enchentes. Falta de saneamento básico, rios assoreados, encostas sem proteção e falta de campanhas para evitar a ocupação desordenada na cidade foram praticamente esquecidas pela gestão do prefeito, que utiliza a máquina pública para atacar a imprensa e criar uma narrativa mentirosa de que está tudo bem e sob controle.
Saiba, senhor prefeito, que ninguém mora em área de risco porque quer. A falta de planejamento urbano, investimentos sociais, desemprego e abandono levam o cidadão a buscar moradia em áreas que a princípio se tem consciência dos riscos, por pura falta de opções. Mesmo morando em áreas carentes, esses cidadãos pagam seus imposto e ajudam a movimentar a economia desta cidade que já foi Maravilhosa. A população segue abandonada pela administração municipal, que deixa de investir em saúde, educação, moradia, transporte e geração de empregos. O cidadão só é lembrado na época de eleições, quando políticos como Crivella pedem votos fazendo promessas nas quais nem eles mesmos acreditam. Foram registradas 4 mortes na cidade do Rio de Janeiro. Temos centenas de desabrigados e desalojados. E isso não é culpa das pessoas montam suas casas ‘nos locais onde economizam com tubos para cocô ou xixi’, mas porque a Prefeitura do Rio de Janeiro não faz a sua parte, não cuida das pessoas.
O único objetivo de Crivella é a manutenção de seu projeto de poder, que está intimamente atrelado a denominação religiosa da qual faz parte. Potenciais regionais são abandonados e atacados pela visão religiosa controladora dos aliados do prefeito, obras deixam de ser feitas, o povo fica abandonado à sua própria sorte, tendo que contar com a caridade. A população de rua aumentou consideravelmente nos últimos três anos, e por conta das enchentes deste início de 2020 a tendência é aumentar ainda mais, assim como a ocupação desordenada dos morros ou encostas.
Em outubro de 2020 teremos eleições para a Prefeitura. Que o povo carioca reflita em suas escolhas, para que não tenhamos que continuar passando por tragédias como essa e possamos acima de tudo cobrar aquilo que temos direito. O Sintuperj, representante dos trabalhadores das universidades públicas estaduais, se posiciona a favor da população carioca contra este posicionamento do prefeito, por acreditar que o povo da cidade do Rio de Janeiro deve ser tratado com respeito por qualquer governante que seja.