Outubro é o mês consagrado para a realização do movimento internacional de conscientização para o controle e os cuidados contra o câncer de mama, uma das doenças que mais vitima mulheres em todo o planeta. O Outubro Rosa, campanha que teve início nos anos 1990 nos Estados Unidos, tem como objetivo compartilhar informações e promover a conscientização sobre a doença, segunda maior causadora de mortes entre as mulheres (atrás apenas das doenças cardíacas). Além da disseminação de informações, também são realizados mutirões de atendimento na rede pública de saúde, com marcações de consultas e agendamento de exames.
No entanto, os esforços para o controle e o combate ao câncer de mama, assim como de outras doenças que atingem o público feminino (como os cânceres de útero e ovário) e precisam ser democratizados de modo a atingir as parcelas mais vulneráveis da população, como mulheres negras e pobres. Um estudo publicado recentemente pelo periódico científico Cancer, da American Cancer Society, sugere que as mulheres negras passam por um período de espera muito maior para o início do tratamento após o diagnóstico. O estudo, que foi realizado com dados do Carolina Breast Cancer Study e contou com a participação de 2.841 mulheres negras e brancas, apontou também que as chances de um tratamento de duração prolongada são maiores para as mulheres brancas em relação às negras. De acordo com os dados apresentados o tempo médio geral para o início do tratamento foi de 34 dias, mas as mulheres negras experimentaram atrasos no início de seu acompanhamento.
Esse estudo realizado nos Estados Unidos poderia ter resultados muito semelhantes ou mesmo mais dramáticos caso fosse realizado no Brasil. Um estudo da Universidade Federal do ABC (de São Paulo) aponta que os ricos no Brasil têm melhor acesso à saúde do que os pobres na realização de consultas, exames e procedimentos cirúrgicos, e a diferença de espera entre a população mais privilegiada e a mais carente é de até 12 meses. Esse tempo, levando em consideração o câncer de mama, é o diferencial para uma recuperação plena da paciente ou para o aumento das estatísticas de óbito pela doença no país.
Quando os profissionais da área da saúde, pesquisadores e setores do movimento progressista defendem o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), que completa 30 anos de criação neste ano de 2020, está em questão também a defesa de um modelo de saúde universal, pública, gratuita, e socialmente referenciada, que dê conta dos desafios que se apresentam para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos do país. O Outubro Rosa já é uma campanha importante e necessária, que pode atingir a maioria das mulheres carentes, em especial negras, indígenas, periféricas e pobres, que não tem acesso aos atendimentos de saúde. Campanhas em defesa da vida das mulheres terão resultados muito mais positivos caso o SUS receba todos os investimentos necessários para seu funcionamento pleno e de qualidade.
Com informações de:
https://www.geledes.org.br/cancer-de-mama-espera-de-negras-para-iniciar-tratamento-e-mais-longa/
https://acsjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/cncr.33121
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-80502014000100006&script=sci_arttext